top of page

Luta dos trabalhadores na Ford

Apresentação

 

 

Durante 50 dias entre junho e julho de 1990, os trabalhadores na Ford enfrentaram umas das mais duras greves da história dos metalúrgicos do ABC.

Mesmo a categoria – liderada por Lula - tendo ousado, no final da

década de 70, desafiar a ditadura militar, nunca a luta de classe esteve tão explícita quanto na Greve dos Golas Vermelhas, como foi batizada em referência aos uniformes do setor de manutenção e ferramentaria.

 

A greve de 900 trabalhadores nestes setores na Ford inaugurou a estratégia adotada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para a Campanha Salarial daquele ano, com paralisações em setores vitais das empresas.

 

Deveria ter sido uma greve como as demais que ocorreram em 90 e que seria encerrada assim que as negociações entre Sindicato e Fiesp fossem aprovadas por ampla maioria da categoria em assembleia realizada no dia 29 de junho, com reajuste de 59,11%.

 

Mas na montadora norte-americana, além da questão econômica havia um fator que não tinha encontrado solução: a demissão de 100 golas vermelhas e o afastamento de João Ferreira Passos, o Bagaço, e José Arcanjo de Araújo, o Zé Preto, integrantes da Comissão de Fábrica.

 

A decisão da Ford, uma semana antes do encerramento da campanha salarial, gerou revolta nos companheiros de chão de fábrica e fez com que os Golas entregassem suas carteiras funcionais, em sinal de protesto.

 

Os trabalhadores, que não estavam em greve e apoiavam solidariamente o movimento, decidiram doar 10 horas de trabalho para pagar o salário daqueles que estavam na linha de frente do movimento.

 

A Greve dos Golas Vermelhas se caracterizou por essa consciência do coletivo, a visão estratégica tinha se transformado em uma posição ideológica e de enfrentamento de classes, com posições claras sobre a luta que pretendiam travar.

 

Para cada ação de endurecimento da fábrica uma ação de resistência era disseminada pelos trabalhadores.

 

No dia do adiantamento salarial, a Ford suspendeu o pagamento de todos os trabalhadores, sem distinção.

 

A reação dos metalúrgicos foi imediata, depredaram e incendiaram as dependências da planta da Ford, em São Bernardo.

 

“O pessoal se revoltou e começou o quebra-quebra”, contou Bagaço.

 

Os dirigentes sindicais foram chamados. A polícia também.

 

O objetivo de desarticular o chão de fábrica teve efeito contrário, aumentou a solidariedade e ampliou o seu alcance de mobilização para além dos muros da empresa.

 

Enquanto isso, a cada dia uma nova tensão se colocava ao movimento. No dia 26 de julho, pela manhã, os trabalhadores encontraram a fábrica cercada pela tropa de choque.

 

A interferência e firmeza das lideranças sindicais e locais evitaram o confronto, a ação foi reconhecida e o diálogo entre o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a Ford foi retomado.

 

A proposta para acabar com a greve consistiu na readmissão de 80 e outros 20 sairiam por um programa de demissão voluntária; reintegração dos membros da Comissão de Fábrica e Cipa, além do reajuste da categoria, antecipação de 15% e um empréstimo no valor dos dias parados - não incidindo sobre as férias, descansos semanais e 13º salário. Para ser descontado em 3 parcelas.

 

O ‘pedágio’ custou o afastamento dos diretores Bagaço e Zé Preto, porém com a manutenção de seus pagamentos.

 

No dia 30 de julho de 1990, os 7.400 trabalhadores na Ford aprovam o acordo e encerram a Greve dos Golas Vermelhas.

   

“A greve é como a guerra. Um instrumento para ser utilizado quando as possibilidades de diálogo não existem mais. Com a consciência de que perderemos soldados valiosos”,

Tsukassa Isawa, líder dos Golas Vermelhas.     

  • w-tbird

Siga-me no Twitter

  • w-flickr

Siga-me no Flicker

bottom of page